segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O "cala-boca" do rei...

Muito bom o texto do advogado Fernando Montes Lopes, que reproduzo abaixo (com pequenas correções):

Todo menino passou por isso ao menos uma vez: Ter de encarar um valentão na escola. Todo mundo já foi para o recreio passando por uma odisséia mental, e a nada metafórica górgona que o aguardava era um moleque mais velho e mais forte, espancador de menores e ladrão de merenda. Todos conhecem o tipo. E todos evitavam cruzar com ele, claro. Quanto maior a distância, menor o problema. Mas alguns usavam uma tática oposta; viviam puxando o saco do sádico mirim. Eram os baba-ovos de plantão, que compravam a simpatia dele com as adulações. Quando o valentão escolhia um deles pra extravasar sua violência natural, a saída do puxa-saco agredido era fingir que tudo não passava de uma brincadeirinha do amigão. Diminuía o tempo de surra e salvava as aparências. Assim o puxa-saco continuava amiguinho do covardão e tentava fazer com que os outros acreditassem que era apenas uma travessura. E afinal, quase nem tinha doído, gente.

Semana passada Lula riu de Hugo Chávez quando foi chamado de sheik da Amazônia e de magnata do petróleo, entre outras graves ofensas. Tudo televisionado. O riso nervoso, forçado, demonstrava claramente que Lula tinha medo. Lula morre de medo de Chávez, o valentão boquirroto. Lula fez o papel de amiguinho para apanhar menos.
Lula foi ironizado, espezinhado, humilhado pelo psicopata Hugo Chávez , na Cúpula Ibero-Americana, ocorrida no Chile. Riu, nervoso, quase histérico, para disfarçar a humilhação mundial que passava. Não só ele, mas, aos olhos do mundo, todo o Brasil foi, de novo, agredido verbalmente pelo venezuelano. O mesmo que chamou nosso Congresso de papagaio dos americanos.

O rei da Espanha não comunga com esses pensamentos. Não agiu como Lula, fingindo que era tudo brincadeirinha do amigão do peito. Não foi fraco, não foi pusilânime. Quando o psicopata falou mal da Espanha e do ex-primeiro- ministro José Maria Aznar, chamando-o de fascista, ouviu o merecido cala-boca; rei Juan Carlos, um homem educado, piloto aposentando da Força Aérea espanhola, fidalgo que bem representa seu país, deu seu recado ao ditador. E ao mundo: chega desse imbecil. Algo que não ouviu do presidente brasileiro; Lulla perdeu uma excelente chance de mostrar que não somos idiotas, ou ao menos, que não é covarde. Estamos mal. Lulla riu (riu!) ao ouvir as ofensas ironicamente dirigidas ao Brasil e à sua triste figura, meu nobre cavaleiro Dom Quixote; digo, Sancho Pança. Moinhos que o digam. Cervantes foi honrado pelo seu rei. Fomos humilhados pelo nosso presidente, mais ainda que pelo falastrão venezuelano. É de chorar; justamente quem deveria, até pela força de seu cargo, defender o Brasil de Chávez, preferiu fingir que a pancada não doeu. Achou melhor assim. Lula só mostra as garras com os menores, como o jornalista americano Larry Rother, que relatou as paixões etílicas do presidente e quase foi deportado pelo "crime". Com os mais parrudos, age diferente; Chegou até a ficar amicíssimo de Fernando Collor, José Sarney e Orestes Quércia, a quem antigamente chamava de ladrões.

Com Evo Morales não foi diferente. O boliviano espoliou e humilhou o Brasil invadindo militarmente a Petrobrás, com transmissão ao vivo pela TV mundial. Lula fez que não era com ele. Como se a pedrada não tivesse atingido suas costas.

O rei espanhol provou que tudo tem limite. Fez com Chávez o que Churchill fez a Hitler em 1938: Avisou ao mundo o perigo que representa um tirano demente e armado até os dentes. Parece que Juan Carlos teve mais sucesso que o inglês em sua empreitada. O alerta foi ouvido.
A Europa cansou de Chávez. O rei disse o que muitos pensam, mas não falam. O venezuelano odeia a Espanha, um país que enriqueceu à custa de muito trabalho duro. Muito diferente da Venezuela, que empobrece a olhos vistos, não obstante as fortunas arrecadadas com a exportação de petróleo, cujos lucros vão diretamente para o ralo do populismo e da corrida armamentista.

Na escola em que o rei Juan Carlos ministra aulas, Lula ainda está no primário. E Chávez o espera no recreio, para roubar nossa merenda.

Fernando Montes Lopes
Advogado

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Casório do André


Finalmente, recebemos as fotos do casamento do André, que aconteceu no último dia 27 de outubro! Meus parabéns, e boa sorte na nova vida de casado!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Tropa de Elite: ninguém é cidadão!

Excelente artigo do Dr. Augusto César, que reproduzo aqui!
Assistindo ao filme não posso deixar de confessar que uma série de incômodos me acometeram diante da radical explicitação da realidade desse País que tanto amamos e tanto maltratamos.
Além do que já foi extensamente veiculado pelas mídias e discutido em uma infinidade de eventos, quero assinalar alguns aspectos.

O estado de tensão permanente durante toda a exibição do filme. A sensação constante de que era preciso estar atento, pois algo poderia acontecer a qualquer momento, reproduz os relatos das pessoas que vivem em nossas cidades, vítimas diretas e indiretas da violência.
Essa condição de contínua apreensão compromete e mesmo anula qualquer coisa assemelhada à boa qualidade de vida e saúde, entendida aqui como bem estar biopsicossocial.

Como aferir o grau de desgaste psicoemocional que habita a população – tanto nas favelas quanto nas casas abastadas – construindo no imaginário de todos, em especial das crianças, a lógica da sobrevivência na selva?

Do ponto de vista do desenvolvimento, qual a parcela do PIB que se perde com a violência? Será que poderia haver uma redução da violência e da corrupção mediante o investimento nas condições de trabalho e salário dos policiais, na capacitação, ou o policial não precisa estudar?
Quedaremos impotentes frente ao discurso dos políticos que convenientemente afirmam que corruptos existem no mundo inteiro e a corrupção é uma questão inerente à condição humana e como tal, irredutível?

É preciso refletir sobre o enunciado corrente de que o Rio de Janeiro vive uma situação de guerra civil. Se for isso, que os políticos assumam que estamos em guerra e a declarem, então!

No Brasil não se admite a pena de morte a não ser em situação de guerra. Mesmo assim, a sua aplicação obedece a um protocolo. Enquanto isso, procedimentos de execução sumária, sem defesa ou julgamento, não passam de flagrante e inequívoco desrespeito ao direito à vida, direito fundamental garantido na Carta Constitucional.

O Estado detém o monopólio da violência. Como disse o Capitão Nascimento, o policial precisa ter a Polícia no coração. Isso é o mesmo que não ter ou não respeitar limites?

Dessa maneira, torna-se imperiosa a reflexão: pode um agente público, encarregado de proteger a população, avocar para si o justiciamento dos infratores? Talvez sim, se admitirmos que o poder público se coloque como promotor de uma política de extermínio.

Também salta aos olhos o paradoxo existente na atitude de nossa sociedade que, evitando o enfrentamento com uma conjuntura inteiramente ameaçadora e inconfiável, não consegue encarar esse mundo de “cara limpa” ao mesmo tempo em que financia o narcotráfico.

Que sociedade é essa que busca se drogar de todas as formas – com drogas lícitas e ilícitas, e, da mesma forma, alienando-se, com a comida, o sexo, o jogo, o trabalho, a academia – optando assim pela hipocrisia das marchas pela paz, das campanhas anti-tabagismo e alcoolismo.

Sem considerar as conseqüências do uso abusivo de substâncias psicoativas, permitidas ou não, cada vez mais nos deparamos com alarmantes indicadores de padecimento psíquico na população, proveniente de situações traumáticas relacionadas com a violência explícita.

Mesmo a violência sugerida ou imaginada que acompanha o dia-a-dia das pessoas contribui para o surgimento de manifestações ansiosas, depressivas, fóbicas ou mistas, tornando-se hoje um problema de saúde pública.

O descontrole do Tenente Mateus ao agredir o estudante/traficante retrata bem a situação de impotência e revolta decorrentes do enfrentamento de valores dispostos em uma perspectiva absolutamente maniqueísta.

O Capitão Nascimento, diante de suas demandas narcísicas – o nascimento do filho e a necessidade de encontrar um substituto à sua altura – assume uma conduta implacável em sua vida pessoal e profissional. Ao enfrentar uma situação limite, passou a vivenciar um conflito entre a sua fragilizante sensibilidade e sua potente agressividade. Ao vivenciar uma tensão incontrolável o equilíbrio do seu espaço interior-subjetivo foi rompido, o que lhe custou o desenvolvimento de sintomas físicos e emocionais que se intensificaram até assumirem a forma de um Transtorno de Ansiedade.

Assim, poderíamos pensar que o Capitão Nascimento era um fraco, que sucumbia à pressão, que “amarelava”. Porém, ninguém adoece sozinho. O sofrimento psíquico não é produzido exclusivamente pelo indivíduo. Ele se apresenta como a resultante de iniciativas e atitudes construídas coletivamente.

“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. John Donne, “Meditações XVII” (século XVI) - Ernest Hemingway “Por quem os sinos dobram” (século XX)

Cabe assinalar também a “consciência social” dos economicamente privilegiados que, atuando nas conseqüências, esquecem que são parte da causa e se dispõem – de uma forma até romântica, mas explicitamente leniente – a estabelecer uma relação promíscua com o narcotráfico, passando a usufruir da proximidade com as drogas e, claro, de uma forma ou de outra, “se dando mal”, sendo exemplados da mesma forma que os traficantes também o foram, ou seja, a regra é a mesma.

Além disso, com ironia e desqualificação, analisando as relações de poder, é colocado o discurso acadêmico foucaultiano como distante, elitista e inoperante frente ao contexto onde as regras são criadas pelo dono do morro.

Ofuscam as retinas a profusão de armamentos, cada vez mais potentes e destrutivos, e o apego aos mesmos – como uma metáfora do desamparo – por parte de mocinhos e bandidos.

Ainda chama a atenção observar a tendência à polarização entre o “bem e o mal” que as pessoas desavisadamente formulam, levadas por um “desejo exterminador” ao final do filme.

Mas o que será isso, esse grande conflito, esse paradoxo, essa ausência absoluta de alteridade, esse apodrecimento social?

Ninguém é cidadão!

Dessa maneira cai por terra a idealização construída no alvorecer das nossas vidas, e com o maior fervor, de que é suficiente respeitar os mais velhos, pagar os impostos, seguir as leis do trânsito, ser ético, ser pacífico, não difamar, não mentir, ser grato, acreditar na justiça, para, em contrapartida, ficar protegido da infâmia, da mentira, da violência, do descaso, da indiferença, dos abusos, da injustiça... Não basta ser “bom”! Cada vez mais somos surpreendidos, impotentes e frustrados ao nos deparar com a desconstrução dessa crença!

Ninguém é cidadão! Seja rico ou pobre. Constitui um equívoco pensar que o rico tem cidadania. O rico compra direitos! Se o rico possuísse cidadania não estaria residindo em condomínios fechados com vigilância armada, circulando com guarda-costas em automóveis blindados ou de helicópteros, encaminhando os filhos para estudarem em escolas privadas ou no exterior, corrompendo para obter vantagens, e da mesma forma sendo vitimado pela violência.

Eis o eixo dessa anomia. Não há como plantar e fazer prosperar quaisquer medidas minimamente eficazes – oriundas seja do poder público, seja da sociedade organizada – se essa condição inicial, a construção da cidadania, não for atendida.

*AUGUSTO CESAR DE FARIAS COSTA – Médico psiquiatra - Psicoterapeuta - Vice Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria Cultural - Conselheiro do CRM DF.