quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O Rio São Francisco

Mendel é um holandês que fala mal o português mas escreve muito bem. Abaixo segue um texto escrito por ele, que vale a pena ler. Escrito diretamente do agreste da Bahia, nos dá uma idéia bem real do que é a questão do Rio São Francisco e da greve de fome do bispo D. Luis Cappio.


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Queridos amigos e amigas

Estou escrevendo com um pedido a todos. Espero que encontrem tempo para ler este email, e se puderem, fazer alguma coisa. E que o espalhem para todos que possam se interessar em fazer algo.

Desde fim de setembro nós (Mendel Hardeman e minha mulher Susanne) estamos no interior da Bahia, na região de Canudos, trabalhando na realização de um documentário entitulado "O Mar do Conselheiro".

No dia 21 de outubro, em Canudos, conheci um homem muito especial. Ele veio almoçar na pousada onde nós estávamos hospedados, e como o lugar é pequeno e não havia mesas suficientes para todo mundo, ele e seus dois acompanhantes se desculparam e vieram sentar conosco na nossa mesa. Era um homem simpático e muito sereno, com uns 60 anos de idade, que falava de maneira pausada e bem-pensada. Começamos a conversar, e quando ele terminou de comer eu perguntei pelo seu nome. Eu já imaginava quem deveria ser, mas queria ter certeza. Um dos homens que lhe acompanhava respondeu por ele, e disse: "Ele é, você sabe, " - no que eu completei: "Bispo Luís Cappio?"

Eu sabia que Dom Luís estaria dando uma palestra em Canudos naquela noite. Ele é bispo da cidade de Barra - BA, às margens do São Francisco. O São Francisco é a artéria principal de água em todo o semi-árido nordestino. Sem o São Francisco, o clima no Nordeste inteiro se tornaria tão seco que qualquer forma de vida humana se tornaria insustentável. Já há muitos anos o rio está sendo afetado por grandes obras: Hidrelétricas que fornecem eletricidade para o Nordeste todo, e projetos de irrigação gigantescos que possibilitam a produção em escala inconcebível de uvas para exportação no meio do semi-árido. As uvas são irrigadas através de sistemas caríssimos, enquanto a população a poucos quilômetros de distância é dependente de um carro-pipa para o seu consumo diário.

Na construção deste tipo de projetos, normalmente a população local é levada a deixar suas terras para dar lugar a empreendedores do exterior ou do Sul e Sudeste do Brasil. Com isso, esta população acaba vivendo em terras tão afastadas do rio que a água para irrigação e consumo se torna muito cara. Enquanto isto, as empresas que tem um forte lobby junto ao governo recebem as terras mais férteis, com água a baixo custo por estarem pertos do rio. Depois de todas estas obras, o Rio São Francisco está sofrendo uma morte lenta. Já há muitos anos, o governo Federal reconheceu que o rio está agonizante, e que deveria-se fazer planos para revitalizá-lo. Estes planos nunca saíram do papel. O que sim saiu do papel foi o plano megalomaníaco da transposição do rio para o interior do Ceará, um plano que foi formulado durante o Império de D. Pedro II e que nunca ninguém teve a "audácia" de realizar. Serão construídos uma série de canais grandes que levarão água para que no interior do Ceará seja possibilitada a irrigação de plantações de empresários provenientes do Sul e Sudeste do Brasil, além de culturas de peixe e camarão.

O governo Lula defende este plano dizendo que 12 milhões de "brasileiros pobres" terão os benefícios desta transposição. Mas quem analisa os dados vê que três quartos da água se destina `a irrigação do agronegócio, outros 20% irão para a indústria, sobrando exatamente 4% para a população local. Além disso, o preço que estes consumidores terão de pagar para receber esta água é tão alto (devido aos custos do projeto) que nenhum "brasileiro pobre" terá condições de pagá-lo. E o que é pior, o rio sofrerá danos irreparáveis. Todos conhecem a música de Luís Gonzaga: "O Rio São Francisco vai bater no meio do mar..." - esta frase hoje já não é mais real. Um fato pouco divulgado é que nos últimos anos o Rio São Francisco tem sido tão fraco durante a estiagem que o Oceano Atlântico está entrando rio adentro, em vez de o Rio entrar no Oceano. Tendo como consequência a salinização das terras da população ribeirinha na foz.

No Brasil, normalmente costuma-se dar voz aos fortes, e raramente aos fracos. Os fortes, que tem dinheiro, crêem ter com isso também mais direitos que o fraco. E o fraco é pisado. Quem tem dinheiro tem influência na política e na mídia, quem não tem dinheiro não tem acesso a nada; sua voz não precisa ser ouvida. A não ser que ele grite muito alto, com muitas vozes ao mesmo tempo. Porque quem é que teria interesse em ouvir a voz de um camponês analfabeto da caatinga? Ele só aparece na mídia se falar daquilo que todos já sabem - reclamando da seca e esperando que no ano que vem Deus mande mais chuva; e exigindo o paliativo que o governo deve mandar na forma de um carro-pipa...

Nós acabamos de passar uma semana no município de Macururé - BA, às margens do São Francisco. Apesar da proximidade do rio, o município está em estado de emergência por falta de água, e a população do interior do município é obrigada a caminhar quilômetros e quilômetros todos os dias à procura de água para os seus animais. Para quê transpôr o rio por centenas de quilômetros, se até hoje nenhum governo se preocupou em fornecer água às pessoas que moram quase à beira dele? A transposição não vai mudar em nada a vida do povo de Macururé, que na sua maioria é analfabeta, não tem nenhum poder político ou financeiro, e por isto nunca esteve em nenhuma lista de beneficiados.

Dom Luís Cappio passou sua vida inteira lutando pelo Rio São Francisco e suas populações ribeirinhas, que dependem do rio para o mais básico que todo ser humano busca: a sobrevivência diária. Nos anos '90 ele organizou a Marcha pelo São Francisco, uma marcha de organizações populares e ONG's desde a nascente do Rio, em Minas Gerais, até o lugar onde ele se encontra com o Oceano Atlântico, inventarisando as histórias de todas as populações ribeirinhas.

Quando, em 2005, os planos para a transposição foram apresentados sem que tivesse havido qualquer forma de consulta das populações locais, Dom Luís Cappio entrou em greve de fome. Ele sempre fez campanha para Lula e para o PT, porque este era o único partido de porte que enxergava a população do semi-árido - os outros sempre têm se mantido cegos e surdos. Mas o próprio bispo reconhece o problema atual: o PT pôde se manter no poder graças ao apoio de grandes empresas, principalmente empreiteiras, que agora exigem o retorno em forma de grandes obras. O fato de a transposição ser tão mal projetada que mais de 40% da água se perderá através de evaporação antes de chegar ao seu destino, pouco importa - o que importa é que há uma Grande Obra a ser feita, e muito dinheiro a ser dividido.

A greve do bispo em 2005 se tornou manchete mundial. Depois de 11 dias o governo Lula se viu tão pressionado que prometeu rever o projeto e iniciar amplas consultas com as populações locais. Dom Luís interrompeu sua greve de fome, e todos os envolvidos no sertão nordestino - que são muitos - se articularam e ficaram esperando o próximo passo do governo. Mas nada aconteceu. O governo não cumpriu suas promessas. O projeto foi revisto, mas sem consulta local nenhuma, e reapresentado como "projeto definitivo".

E de repente o exército apareceu às margens do São Francisco, e cercou a região onde as obras seriam iniciadas. Nem mesmo durante a ditadura militar houve a necessidade de defender, com tanques de guerra e artilharia, uma obra que se afirma ser para o bem da população local. As obras começaram, bem protegidas do ódio desta mesma população. E a mídia pouco comentou...

No dia 27 de novembro, 5 semanas depois do dia em que eu lhe conheci em Canudos, o Bispo Dom Luís Cappio iniciou sua segunda greve de fome. Hoje entra no vigésimo terceiro dia.

Enquanto isto, o governo Lula mantém o mito dos 12 milhões de pobres que serão atendidos. Se alguém se preocupasse com estes pobres, os R$ 20 bilhões (ou seja, um 2 seguido de dez zeros) que a obra deve custar até que seja terminada, dos quais R$ 6 bilhões serão gastos durante o governo Lula, seriam usados de outra forma. 20 bilhões equivale a 10.000 x R$ 2 milhões, ou seja, dez mil pequenas localidades no semi-árido (nem sequer há tantas localidades no semi-árido) poderiam receber dois milhões de reais cada, para resolver o problema da falta de água de suas populações do modo mais apropriado para cada local, com ampla consulta de todos os envolvidos e sem precisar de tanques de guerra.

Enquanto isto a mídia pouco informa sobre a situação na região. Para quem lê a revista Veja, na semana passada esta revista publicou um artigo sem pé nem cabeça, cuja única intenção era ridicularizar o bispo, sem fornecer nenhuma informação concreta. Cito a reação de um leitor indignado:

"Parecem não conheçer a ordem dos franciscanos. Digo isso porque nas entrelinhas tentam zombar, subestimar, e até mesmo ridicularizar uma reputação tão séria e respeitosa como tem sido a vida de Dom Cappio, a quem devo profundo respeito, embora não professando fé católica. Engraçado que os políticos e a mídia pensam que os religiosos são iguais a eles, pois digo, não o são. Um religioso é um mártir vivo, durante 24 horas do dia, ele não apenas morre por uma causa. Ele vive em função dessa causa. O governo deveria agir mais sensatamente com esse caso, estão dando pouca significancia da influencia da ICAR na vida nacional."

Esta questão toda não me deixa em paz. Desde que cheguei no Sertão tenho me sentido tão em casa e me identificado tanto com a gente daqui que não sou capaz de deixar de ver o que está acontecendo. Durante o dia é difícil pensar em outra coisa, e à noite não durmo porque as palavras do bispo, na palestra daquela noite em Canudos, ecoam pela minha cabeça. Palavras fundamentais, sobre Mahatma Gandhi e sua resistência pacífica, e sobre a questão "Quando é que vale a pena dar a vida por alguma coisa?". Me pergunto o que é que eu posso fazer, mas ainda não encontrei a resposta.

Acabo de ouvir no Jornal Nacional que Dom Luís Cappio foi internado depois de ter perdido a consciência. Deixei de jantar e decidi que caso nada mude nos próximos dias, deixarei de comer durante o Natal também - passarei os dias 24 e 25 sem comer. Se penso naquele homem que estava sentado ao meu lado naquela mesa, não consigo engolir comida nenhuma.

O único que posso fazer neste momento é pedir a todos vocês que visitem o seguinte site:

Uma Vida pela Vida - http://www.umavidapelavida.com.br

Ali se encontra toda a documentação relevante para quem procura saber mais sobre este tema. E pedem a todos aqueles que queiram apoiar a ação em defesa do Rio São Francisco e as populações ribeirinhas, que baixem uma manifestação de apoio, e a mandem para o endereço indicado.

E quem se interessar: Continue pesquisando! Se informe! É medonho ver como o povo do Brasil sabe tão pouco sobre toda esta história... Procure na internet! Discuta! Tenha uma opinião baseada em dados concretos! E cuidado para não se perder no labirinto de cifras que o Governo construiu para enganar quem não conhece a situação na região. Não que os cálculos do Governo estejam mentindo de forma aberta - mas sim, são um ajuntamento de meias-verdades tão bem feito que até eles mesmos parecem acreditar no que dizem.

Para você o Rio São Francisco pode parecer muito longe, mas esta questão é de importância fundamental para grande parte do Brasil.

E por favor: espalhe esta mensagem!!! Mande este email para todas as pessoas das quais você acha que elas possam se interessar no tema! É URGENTE!

Finalizando, eu queria pedir a todos aqueles que crêem num Deus maior que nós seres humanos, que ponham toda esta questão perante Ele em oração.

Um forte abraço!


Mendel

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Máquina do Tempo



Imaginei então uma situação interessante. Alguém inventa uma máquina do tempo. E vai testar. Escolhe uma data aleatória? 1989, por exemplo?
e aperta um botão. A máquina traz para o presente ninguém menos que Luis Inácio Lula da Silva. Aquele de vinte anos atrás. Lula chega meio
zonzo:
- O que é isso, companheiro?
Sem entender o que acontece, Lula é recebido com carinho, toma uma água, senta-se num sofá e recupera o fôlego.
- Onde eu tô?
- No futuro, Presidente. Colocamos em prática a Teoria da Relatividade!
- Futuro? Logo agora que vou ganhar do Collor, pô! Me manda de volta pro passado! Zé Dirceu! Zé? Cadê o Zé?
- Calma, Lula. Aproveite para dar uma olhada no seu futuro. Você é o presidente da República!
- Eu ganhei?
- Não daquela vez. Mas ganhou em 2002. E foi reeleito em 2006!
- Reeleito? Eu? Deixa eu ver, deixa eu ver!!!
E então Lula senta-se diante de um televisor de plasma. Maravilhado, assiste a um documentário sobre os últimos 20 anos do Brasil. Um sorriso escapa quando a eleição de 2002 é apresentada.
- Pô, fiquei bonito! Ué. Aquela ali abraçada comigo não é a Marta Suplicy?
- Não, Presidente, é a Marisa Letícia.
- Olha! Eu e o Papa! E aquele ali, quem é?
- É George Bush, o Presidente dos Estados Unidos!
- Arriégua! Êpa! Mas aquele ali abraçado comigo não é o Sarney? Com a Roseana? E o que é que o Collor tá fazendo abraçado comigo? O que é isso? Tá de sacanagem?
- Não, presidente. Esse é o futuro!
- AAAAhhhhhh! Olha lá o Quércia me abraçando! O Jader Barbalho! Cadê o Genoíno? Cadê o Zé Dirceu?
- O senhor cortou relações com eles.
- Meus amigos? Me separei deles e fiquei amigo do Quércia?
- Pois é...
- E aqueles ali? Não são banqueiros? Com aqueles sorrisos pra mim?
- Estão agradecendo, Presidente. Os bancos nunca tiveram um resultado tão bom como em seu governo.
- Bancos? Os bancos? Você tá de sacanagem. Sacanagem!
- Calma, Presidente. O povo está gostando, reelegeram o senhor com mais de cinqüenta milhões de votos!
- Mas não pode! Cadê os proletários? Só tô vendo nego da elite ali.
Olha o Vicentinho de gravata! E o Jacques Wagner também! Mas que merda é essa?
- É o futuro, Presidente.
- E o Walter Mercado?(*) Tá fazendo o quê ali?
- Aquela é a Marta Suplicy, Presidente.
- Ah, não. Não quero! Não quero! Não quero aquele meu terninho. Não quero aquele cabelinho. Não quero aquela barbinha. Desliga isso aí!
- Mas Presidente, esse é o futuro. O senhor vai conseguir tudo aquilo que queria.
- Não e não. Essa tal de teoria da relatividade é um perigo.
- Perigo?!
- É. As amizades ficam relativas. A moral fica relativa. As convicções ficam relativas. Tudo fica relativo.
- Bem-vindo a 2007, Presidente.

(*) Astrologo Porto Riquenho, visto na foto




(**) Artigo de autor desconhecido.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Eu sobrevivi!



Finalmente, a tão falada cirurgia a que eu tinha que me submeter ocorreu. Não adiantou tentar "correr da raia", adiar, etc... Enfim, tomei coragem, e no último sábado, dia 01/12, "entrei na faca"! Meu desvio de septo (leia direito: é desvio de "SEPTO"!!!) foi corrigido, e agora estou de "nariz novo"!

Nos primeiros dias, é muito incômodo para dormir, ou mesmo para me movimentar: nariz "empinado", para não sangrar... Mas agora, já está estabilizando. O sangramento parou, agora é apenas a coriza e o nariz entupido. A primeira "limpeza" já fiz no consultório do médico, e agora vem uma série de outras. Aliás, aproveito para recomendá-lo a todos: Dr. Sérgio Tasso, um excelente cirurgião.
Ontem, dia 05/12, retornei ao trabalho, são e salvo!